TBRI – TRUST BASED RELATIONAL INTERVENTION

INTERVENÇÕES RELACIONAIS BASEADAS NA CONFIANÇA

TBRI (Trust-Based Relational Intervention): Uma Abordagem Científica para o Cuidado de Crianças com Traumas

A TBRI (Trust-Based Relational Intervention), ou Intervenção Relacional Baseada na Confiança, é um modelo de intervenção criado para atender às necessidades de crianças que passaram por experiências adversas, como negligência, abuso, instabilidade familiar ou qualquer outro tipo de trauma. Desenvolvido no Texas Christian University (TCU) pelo Karyn Purvis Institute of Child Development, o TBRI é baseado em pesquisas sobre neurociência, desenvolvimento infantil e apego seguro, proporcionando um conjunto de estratégias práticas para cuidadores, profissionais da saúde mental, educadores e famílias adotivas ou acolhedoras.  Chegou ao Brasil por meio de uma parceria entre a ANGAAD – Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção, a Associação Pontes de Amor e o Instituto Karyn Purvis em 2016.

Fundamentos do TBRI

O TBRI se baseia na compreensão de que crianças expostas a traumas precoces frequentemente desenvolvem dificuldades no processamento sensorial, na autorregulação emocional e na construção de relacionamentos saudáveis. Assim, o modelo trabalha três princípios centrais para promover a ressignificação das histórias traumáticas, da identidade, valor e senso de futuro, e o desenvolvimento dessas crianças:

  1. Princípio da Conexão (Connecting Principles)

Esse princípio enfatiza a importância do vínculo seguro entre o cuidador e a criança. Ele se baseia na teoria do apego e na neurociência afetiva, considerando que crianças com históricos de trauma frequentemente apresentam dificuldades para confiar nos outros e regular suas emoções.

Técnicas dentro desse princípio incluem:

  • Contato visual suave e afirmativo, respeitando os limites da criança;
  • Tom de voz calmo e afetuoso, evitando tons agressivos ou ameaçadores;
  • Respostas empáticas e sensíveis, demonstrando compreensão e acolhimento;
  • Momentos de conexão intencional, como brincadeiras e atividades conjuntas para fortalecer o vínculo.

A conexão segura ajuda a criança a reconfigurar suas experiências anteriores de negligência, violência ou abuso, estabelecendo uma base de segurança emocional.

  1. Princípio da Capacitação (Empowering Principles)

Esse princípio foca na regulação fisiológica e emocional da criança, levando em consideração suas necessidades básicas, como alimentação, sono e segurança. Muitas crianças traumatizadas apresentam dificuldades em autorregulação devido a experiências passadas de estresse tóxico.

Estratégias utilizadas:

  • Rotinas previsíveis e estruturadas para reduzir a ansiedade;
  • Atenção a necessidades sensoriais, ajudando a criança a modular estímulos;
  • Oferecer opções e autonomia para que a criança sinta que tem controle sobre partes de sua vida;
  • Uso de técnicas de respiração e relaxamento para ensinar autorregulação.

Ao criar um ambiente seguro e previsível, o cuidador permite que a criança desenvolva habilidades de regulação emocional essenciais para o bem-estar.

  1. Princípio da Correção (Correcting Principles)

Esse princípio trata da disciplina e do ensino de habilidades sociais e emocionais, sempre com base no respeito e na compreensão. O TBRI rejeita abordagens punitivas severas e prioriza técnicas de correção que promovam aprendizado e crescimento emocional.

Métodos incluem:

  • Redirecionamento positivo, onde a criança é guiada a fazer escolhas adequadas;
  • Uso de linguagem proativa, com instruções claras e encorajadoras;
  • Práticas de repetição e reforço, ajudando a criança a internalizar novos comportamentos;
  • Disciplina baseada no ensino, em vez de punição rígida ou humilhação.

A correção dentro do TBRI não busca simplesmente conter comportamentos inadequados, mas sim ensinar a criança a fazer melhores escolhas no futuro, sempre dentro de um contexto de apoio e segurança.

Eficácia do TBRI e Aplicação Prática

O modelo do TBRI tem sido amplamente estudado e aplicado em diversos contextos, incluindo acolhimento institucional, escolas, programas de acolhimento familiar, famílias reintegradas, varas da infância e juventude, igrejas, espaços de cumprimento de medidas sócio educativas e instituições de saúde mental. Pesquisas indicam que essa abordagem melhora significativamente a autorregulação emocional das crianças, reduz comportamentos desafiadores e fortalece a resiliência.

Os profissionais e cuidadores que adotam o TBRI percebem mudanças positivas, como:

  • Maior engajamento e confiança das crianças nos adultos;
  • Redução de crises emocionais e comportamentais;
  • Melhoria na capacidade de relacionamento e comunicação;
  • Aumento da autoestima e senso de pertencimento nas crianças.

O sucesso do TBRI está no fato de que ele não apenas lida com os sintomas do trauma, mas trata suas causas fundamentais, ajudando as crianças a reconstruírem sua visão de mundo de forma segura e positiva.

Conclusão

O TBRI é uma abordagem científica e humanizada para o cuidado de crianças que passaram por traumas. Com seus três pilares – conexão, capacitação e correção – ele promove um ambiente de confiança, estrutura e aprendizado, permitindo que crianças vulneráveis tenham a chance de se desenvolver de maneira saudável.

Seja para pais adotivos, professores, terapeutas, psicólogos, assistentes sociais, conselheiros tutelares, policiais, juízes, promotores e defensores de justiça ou qualquer pessoa que trabalhe com crianças que sofreram adversidades, o TBRI oferece um guia valioso para transformar vidas, promovendo restauração e fortalecimento emocional.

Para mais informações nos colocamos à disposição.

Sara Vargas – Presidente da Associação Pontes de Amor – Profissional Habilitada para o ensino e uso do TBRI pelo Instituto Karyn Purvis, Texas Christian University.

E-mail: sara@pontesdeamor.org.br             Tel.: (34) 3235 5615  e  (34) 99106 8023