Acompanhamento psicossocial de crianças e adolescentes após adoção é a chave para uma boa constituição familiar.
Para a criança ou adolescente, a adoção pode proporcionar um lar amoroso e estável, bem como o acesso a oportunidades que poderiam não estar disponíveis em sua situação anterior, como educação, saúde, apoio emocional e psicológico.
Para os postulantes, por sua vez, adotar um filho proporciona a alegria e a realização que advém de se tornar pai ou mãe e de construir uma família.
A criação de um filho pode trazer muita alegria e realização pessoal ao criar laços fortes e duradouros.
Assim, a adoção é, sem dúvidas, um ato de amor e, por meio dela, estabelecem-se “pontes” entre pessoas para que elas possam unir-se em uma constituição familiar próspera e saudável.
Mas, é importante lembrar que a adoção também deve ser um ato de zelo e dedicação. Afinal, a adoção é um processo que exige atenção e muita sensibilidade, sobretudo por parte de quem deseja adotar.
Os postulantes precisam reconhecer a importância de costurar, linha por linha, o grande manto que representa o processo adotivo e reconhecer, ainda, que sempre terão linhas a se tecer.
Em outras palavras, é responsabilidade daquelas pessoas que optam por adotar compreender que o processo adotivo não termina no momento da chegada do filho que passará a constituir a família.
Tão importante quanto os preparativos que antecedem a adoção e o momento de acolhimento em si é o acompanhamento pós-adoção.
O que é pós-adoção?
Muitas famílias pensam que o processo adotivo termina no momento da consumação da adoção ou da finalização dos processos burocráticos.
Mas a realidade é que, mesmo no momento após a sentença de adoção, os pais precisam estar tão envolvidos quanto nas etapas iniciais da adoção. Essa etapa subsequente é o que chamamos de pós-adoção.
Após o período da pré-adoção, ocorre a chegada dos filhos e, depois disso, inicia-se o trabalho de pós-adoção.
O acompanhamento pós-adoção é um conjunto de práticas que visam promover suporte, reflexão e acompanhamento às famílias adotantes em período de estágio de convivência, permitindo que a família adotiva e a criança ou adolescente adotada possam se ajustar e se adaptar à nova situação.
A pós-adoção pode incluir acompanhamento psicológico, orientação jurídica e apoio financeiro, entre outras formas de ajuda.
Pode também incluir contato entre a família adotiva e a família biológica, se for permitido pelas partes envolvidas.
Porque o acompanhamento pós-adoção é importante?
O processo de acompanhamento pós-adoção é importante para identificar e tratar quaisquer problemas ou desafios que possam surgir, tanto para a criança ou adolescente quanto para a família adotiva.
Os jovens adotados, na maior parte das vezes, precisam de tempo para se adaptar a sua nova família e ao ambiente.
A família adotiva, por sua vez, pode precisar de ajuda para lidar com as necessidades específicas da criança. Isso acontece pois os filhos que são adotados podem ter sido vítimas de trajetórias marcadas por rupturas e traumas.
Grande parte das crianças ou adolescentes que são colocados para adoção já experienciaram circunstâncias árduas, como negligência, abuso, separação de suas famílias biológicas e desafios em instituições de acolhimento; vivências que podem causar traumas.
Além disso, muitos jovens adotados no Brasil vêm de famílias socioeconômicas desfavorecidas e podem ter experimentado diferentes tipos de privação, como alimentar, educacional ou afetiva.
Por isso comportamentos desafiadores são comumente apresentados por essas crianças e adolescentes, de modo que entram em um padrão de hipervigilância e medo.
Reconhecendo, então, esse cenário, é importante que os pais adotivos estejam preparados para lidar com essas questões e para oferecer suporte adequado à criança adotada.
Para que os pais tenham essa preparação, o processo de acompanhamento de pós-adoção traz orientações para lidar com essa realidade, incorporando práticas que garantam que a criança tenha o melhor possível para seu desenvolvimento e bem-estar.
Ademais, o pós-adoção é um processo de suma importância para ajudar os adotivos a lidarem com questões de identidade e pertencimento, de modo a ajudar essa criança ou adolescente a entender sua história e o seu passado.
De modo geral, o acompanhamento pós-adoção é fundamental para que a adoção tenha êxito e que a família tenha uma trajetória repleta de amor, carinho e compreensão.
Pós-adoção na prática: curso “Criança em Foco”
Desenvolvido pela Pontes de Amor – OSC que atua em Uberlândia e região em sintonia com a Rede de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente – o “Criança em Foco” é um curso educacional virtual que se destina a capacitar não apenas pais e mães, como também profissionais e cuidadores envolvidos com jovens que estão em processo de adoção e que passaram por violações de direitos como negligência, violência física, sexual, psicológica.
Neste curso, você aprende tudo sobre a importância do acompanhamento pós-adoção e como implementar esses ideais na prática.
Disponibilizado gratuitamente para todo o público em uma plataforma virtual de livre acesso, o “Criança em Foco” traz informações práticas e relevantes, cientificamente comprovadas, que reconhecem o trauma vivenciado por crianças e adolescentes e seus impactos no processo adotivo.
O curso é dirigido para que pais, educadores e profissionais consigam ter mais êxito na sua relação com estas crianças e adolescentes, cooperando não apenas com a melhoria em seu comportamento, mas também em seu desenvolvimento integral.
O objetivo, como o próprio nome do curso sugere, é colocar essas crianças e adolescentes em “foco”, de modo que eles sejam, de fato, vistos e reconhecidos. Assim, laços de confiança e conexão poderão ser firmados entre pais e filhos.
O curso é ministrado por profissionais especialistas no assunto. Uma delas é Sara Vargas, diretora técnica da “Pontes de Amor” e especialista em Terapia Familiar Sistêmico Construtivista e Psicodramática.
Sara conta que uma das finalidades do curso é mostrar “como adultos, cuidadores e pais podem e devem se relacionar com crianças e adolescentes de forma a cooperar para que eles saiam do lugar do medo e da hipervigilância e consigam se desenvolver bem.”
Nayana Shimaru, doutoranda em Psicologia especializada em Teoria Psicanalítica, também é facilitadora do “Criança em Foco”.
“O nome do curso já diz muito sobre o que eu acredito, que é a importância de olhar para a criança e reconhecer suas necessidades para, então, poder criar bases sólidas e condições favoráveis para o desenvolvimento integral dela.” relata Nayana.
Fernanda Nascimento Silveira, especialista em psicopedagogia e neuropsicologia, também faz parte da equipe de ministrantes das aulas on-line do curso. Ela afirma que “um dos temas abordados no ‘Criança em Foco’ é voltado para promover a construção e o desenvolvimentos das crianças, de modo a torná-las empoderadas, fortes e seguras.”
Também fazem parte da equipe de idealização e concretização do projeto a coordenadora de comunicação Flávia Marquez Franco e a coordenadora executiva e jurídica Natalia Castro Ferreira.
Para além dos nomes citados, a equipe do Criança em Foco inclui diversos outros colaboradores importantes que contribuíram para a criação da plataforma e contribuem até hoje para o sucesso do curso.